segunda-feira, 2 de maio de 2011

Combinando pizza e vinho: Uma questão de terroir

A pizza é um dos pratos mais populares e consumidos mundialmente, associada a qualquer tipo de ocasião e que permite que as combinações mais diversas tenham resultados interessantes. E claro, quando pensamos em uma bebida pra acompanhá-la, o vinho pode ser um bom par.
Quando pensamos no vinho, lembramos sempre da sua matéria-prima, pois o tipo de uva e sua qualidade são essenciais para o produto final, isso que vai guiar o sabor do vinho, juntamente com as características de cada terroir. A genialidade do enólogo é crucial para que o vinho seja moldado (proporções das varietais, teor alcoólico, açúcar residual), a fim de mostrar todas as suas características e qualidades na proporção certa. E por último, os toques finais, que ficam por conta da maturação, tipo do barril, tempo, novo ou velho, que vai conferir algumas características adicionais ao vinho.
Tudo isso me leva a traçar uma pequena analogia: Com as pizzas, tudo é muito parecido. Ousaria dizer: Cada pizza também tem o seu “terroir” (claro, em suas proporções diferentes). Vejamos: as matérias-primas, tal qual a uva para o vinho, é o que vai guiar o sabor da pizza e a sua preferência. O pizzaiolo, com um trabalho árduo e engenhoso tal qual o do enólogo, é o que cuida para que todas as pequenas partes daquele alimento sejam iguais, se complementem e façam com que a nossa mente implore pelo próximo bocado. E por fim, os ingredientes (adicionados para conferir um toque característico, como o manjericão, a pimenta, o azeite, etc) e o trabalho final (tempo de forno, temperatura ideal) se assemelham aquelas etapas finais do bom vinho, onde em ambos os casos visam deixá-lo nas melhores condições para o consumo.
Quando olhamos por essa perspectiva, vemos que a pizza e o vinho podem ser resultarem em boas combinações, simples e prazerosas. Da diversidade dos dois, podemos achar a chave de uma combinação inusitada.
Mas como combinar? O que priorizar? Como fazer?
Lembre-se sempre que, a base de qualquer pizza é o queijo que, por si só, é um grande parceiro dos vinhos.
Uma combinação descompromissada, na companhia dos amigos, de boas conversas e risadas. Aqui eu deixo algumas dicas que podem funcionar bem, mas o mais importante é não se sentir preso, não há nada absoluto, o seu paladar é que conta. Ouse, tente, prove e repita sempre.

Ingredientes básicos:
Queijo e tomate:
Estes dois ingredientes, que são a base da pizza e comuns na culinária Italiana, resultam em uma combinação simples e prazerosa. Uma infinidade de vinhos poderiam fazer um belo par, eu optaria sempre por um vinho tinto, Cabernet Sauvignon e um bom syrah. Os italianos podem ser uma fonte infindável de combinações, de Barbera a Chiantis.
Em geral, com a maior parte das pizzas pode-se apostar, sem muito medo de errar, em tintos de corpo médio, pois irão aguçar o sabor dos ingredientes da pizza e fazer com que a combinação seja interessante.
Molho de tomate em excesso? Continuo com um tinto jovem de médio corpo, mas reduzo a acidez, me agrada mais.
Lembre-se de olhar o prato como um todo, dos ingredientes aos produtos principais: Peso, cremosidade, vivacidade, aromas, etc... A combinação deve ser global: vinhos mais simples, com um prato simples.
Bom, vamos a alguns exemplos mais específicos:

Pizza Marguerita
A pizza mais popular de todas, que agrada pela combinação clássica dos ingredientes, aliando a simplicidade ao bom gosto.
A receita tradicional é composta de tomate, manjericão, queijo e azeite (em alguns casos azeite de manjericão). Esta pizza combina perfeitamente com vinhos suaves, para não ofuscar o toque do manjericão. Para esta combinação eu apostaria em belo Syrah. Ou, se preferir, opte por um branco de boa acidez e perfil aromático, como um Sauvignon Blanc.

Pizzas contendo carnes (tradicionais no Brasil)
Estas pizzas são resultados modernos de inovação, mas que agradam a muita gente. Neste caso, um Merlot seria bem recomendado, por combinar bem com a carne e a gordura do queijo, um casamento de ideais, sem interesse em mascarar o sabor da pizza.

Carnes vermelhas:
O peso do vinho deverá acompanhar o peso do molho, dos mais jovens para molhos mais leves aos mais robustos para acompanhar molhos abundantes.
No caso de carne de boi em molhos leves, arrisque um rótulo nacional de Tannat. Se começou a pesar, corra para um Cabernet Sauvignon, ele pode escoltar mais facilmente pratos densos, mas cuidado: um vinho muito encorpado e amadeirado pode chamar toda a atenção pra ele.

Carnes brancas:
Neste caso você também deve prestar muita atenção no molho, pois é ele quem vai comandar o sabor do prato. No caso de molhos mais leves, você pode arriscar em um branco de boa estrutura ou recorrer a um tinto jovem, de corpo médio.
Se o resultado final for realmente leve, considerando a massa, molho e carne (que pode ser um peito de peru), abra um Chardonnay levemente mais encorpado, a madeira pode doar notas para que a combinação fique interessante e ainda assim te permitirá desfrutar de tudo. Um molho mais cremoso e mono-aromático, dê mais vida com um Pinot Noir leve, vai deixar o resultado saboroso e macio.

Outros:
Pediu aquela pizza de calabresa? Apenas cuidado com a quantidade de cebola, pois seu sabor pode destoar um pouco da combinação típica. Em todo caso, a calabresa, geralmente mais condimentada pede um vinho rústico. Acompanhe com um Syrah ou um bom rótulo de Tempranillo jovem. É claro, diversos italianos, mais uma vez, podem ser um par adequado.
Uma pizza diferente: Pizza de anchovas? Se você gosta e quer tentar a combinação (eu ainda não arrisquei), devido ao sabor forte da anchova eu iria de Chardonnay ou Pinot Noir. Pode dar certo...

Pizzas com frutas
Algumas pizzas podem conter frutas como abacaxi, pêssego ou outras. Neste caso, uma combinação interessante ficaria por conta de um belo Zinfandel, ou um vinho de sobremesa semi-seco. Arrisque na leveza Sauvignon Blanc ou na delicadeza de um Gewürztraminer.

Pizzas condimentadas
No caso de molhos condimentados, as combinações devem prezar por vinhos que tem o frescor como característica chave. Boa acidez, baixa tanicidade. Quem sabe um espumante nacional para a comemoração?

Arrisque nas origens, pizzas com ingredientes típicos combinadas com vinhos típicos da região. Pizza e vinho: uma combinação de terroir, aquele do vinho e aquele da pizza. Use a cabeça, mas abuse do paladar. Tente novas combinações: A regra aqui é a flexibilidade.
Lembre-se sempre: Ouse, tente, prove e repita sempre.
Bom apetite!



8 comentários:

  1. Olá,
    Excelente matéria, um guia para todo louco por pizza ter em baixo do braço...hehe
    Parabéns

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  2. Grande Alexandre, obrigado pela força!
    Apareça sempre.
    Abraços

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  3. Excelente matéria!!! Porei em prática assim que sair para comer!!
    Abraços

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  4. Olá Andrea!
    Muito obrigado pela visita e pelo elogio...
    Fico feliz que tenha gostado e, principalmente, que tenha sucesso nas harmonizações futuras.
    Pizza e vinho, duas unanimidades. Quando juntos, o resultado tem tudo pra ser positivo.
    Qualquer resultado interessante não deixe de me informar!!
    Boa pizza e bons vinhos.
    Grande abraço,
    Gustavo
    [Histórias e Vinhos]

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  5. Gustavo, muito legal postagem e assunto!
    Parece que tomates maduros têm bastante umami - misterioso tudo isso, mas tentando entender Tim Hanni etc : combina perfeito com suas observações - comida com umami e doce faz o vinho parecer mais forte e comida com sal e acidez faz o vinho parecer mais fraco.
    Pensando bem, quem sabe se isso é verdade então deveria ser possível beber um vinho forte e tânico junto com pizza mais salgado com anchovas.
    Abraços
    Ulf

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  6. Cara! Parabéns sensacional a matéria muito interessante gostei muito, parabéns

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  7. @ULF:
    Um prazer ter sua visita e comentário!
    Concordo com você...
    Grande abraço e bons vinhos.
    Gustavo
    [Histórias e Vinhos]

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  8. @"Anônimo":
    Obrigado pelo comentário...
    Espero que acompanhe sempre as novidades do H&V.
    Abraços e bons vinhos.
    Gustavo
    [Histórias e Vinhos]

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