quinta-feira, 7 de julho de 2011

Será o fim do barril de carvalho convencional?

A pergunta “Será o fim do barril de carvalho?” pode assustar a todos aqueles que apreciam os vinhos estagiados nos barris de carvalho, que o consideram como um sinônimo de complexidade de aromas e sabor, mas hoje em dia, considerando as tecnologias modernas, a pergunta pode estar perto de uma resposta definitiva.
O barril convencional pode estar com os dias contados?
É eu sei, vai contra a ordem natural evolutiva do vinho, que desde a sua versão histórico-moderna e durante tantas gerações eles passam, após a fermentação, por um estágio nos barris de carvalho para a maturação e para conferir novos aromas e sabores.
Mas o que os enólogos poderiam utilizar além do barril convencional? O que poderia ser mais barato, acessível e até mesmo ecologicamente mais favorável?
Tentando responder a tantas questões como esta e, principalmente, para fornecer novas possibilidades ao processo de produção do vinho, diversos testes estão sendo realizados por vinícolas da Austrália para mudar radicalmente a forma de como a indústria do vinho emprega o carvalho.
A (r)evolução é resultado de um joint venture entre a Austrialia´s Flextank  e a France´s Oenowood International, que tem planos promissores para as melhores árvores de florestas francesas. Após o corte, ao invés de serem montados os barris, os produtores da Austrália vão utilizá-las na forma de prancha de carvalho em seus vinhos. Seria um pseudo-barril, conhecido como BarriQ.
O que alegam a respeito desse BarriQ é, primeiro, que ele é mais barato e segundo que vai fornecer os mesmos sabores, taninos e aromas, como um barril convencional, mas com benefícios adicionais. Como alegam os representantes do projeto: “O barril de carvalho é um dos grandes desperdícios do mundo, pois se o vinho penetra apenas de 4 a 6 milímetros de um barril, os enólogos estão jogando fora 70% do produto”.
Além do BarriQ, outra invenção estudada é o chamado Flextank, que visa substituir mesmo o carvalho, pois se trata de um tanque de polímero termoplástico. Os inventores estão nas fases de testes, mas relatam que ele “respira” de forma semelhante ao barril de carvalho convencional. Você deve estar se perguntando, tudo bem que ele tem a mesma transferência de oxigênio, mas e quanto aos atributos conferidos ao produto?
Bom, aí sim entra uma parceria entre os dois produtos citados aqui. O resultado desta combinação entre o Flextank (trazendo oxigênio) e o BarriQ (trazendo sabores e taninos) poderá ser a altura do bom e velho barril de carvalho?
A resposta ainda tem muito a ser desvendada, mas o custo é um fator que afasta muito a maturação do barril de carvalho. Os enólogos pagam cerca de U$1.250-1.300 para uma barrica nova de 225 litros, importada da França. Supondo que um produtor de médio porte compre cerca de 650-750 barricas por ano, então este custo poderá ser um dos maiores gastos da empresa. E todo este montante investido, após a produção e uma, duas ou três vezes de utilização, a barrica poderá ser encontrada em um jardim qualquer como adereço, ou em uma adega qualquer...
A proposta do BarriQ é ser comercializada em um pacote com 8 varas (ou o equivalente a meio barrica), por U$401 dólares, ou 16 varas (equivalente a um barril), por 802 dólares, ou seja, aproximadamente a metade do valor. A proposta seria: O produtor só paga pelo que precisa, pelo que vai utilizar.
Outra questão que entra para a nossa conta seria a questão ambiental. Um carvalho deve ter uma vida próxima (ou superior) a 100 anos antes de ser cortado, para dar forma aos barris. Algumas florestas francesas, exemplos de sustentabilidade, produzem o equivalente a uma árvore a cada 150 anos, ou seja, dois barris por ano, por hectare. Muito pouco. Além disso, 80% deste material pode ser descartado ao longo da cadeia produtiva e, ao final, acabará como lenha para a fogueira.
Agora que vimos alguns quesitos importantes, pensamos em outro fator essencial: E quanto ao gosto?
A beleza dos barris contrastada com o futuro!
Para nos ajudar a pensar nisso, descobri que a Blue Pyrenees Estate, com seu enólogo Andrew Koerner, conduziu os primeiros testes da conjunção do BarriQ com o Flextank, no seu Cabernet sauvignon 2008, que ganhou prêmios de melhor tinto no Sydney Royal Wine Show. Tudo bem que isso seria o equivalente a ganhar uma dança dos famosos no Faustão, mas é um começo. Certo? A primeira vitória para todos os envolvidos nestes projetos...
Poucos ainda estão convencidos, mas as pesquisas estão intensas e outros resultados estão sendo coletados. E ainda há aquele famoso romance com o barril, que pode perder o brilho quando se trata de uma prancha de carvalho imersa em um tanque sintético. Mas, convenhamos, se você não vai ver, qual a diferença? Poderia usar um famoso ditado, mas nem isso vou fazer.
Agora é aguardar pra ver. Se vai ser no carvalho ou em um tanque termoplástico, ainda não dá pra saber.

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